
Poder da juventude
Poder da juventude
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A facilitação de grupos é um elemento crucial no setor filantrópico. Quer trabalhemos em uma organização intergovernamental, uma fundação ou uma organização não governamental de base, frequentemente temos a responsabilidade de proporcionar espaços de reunião e reflexão para compartilhar ideias, identificar oportunidades ou fortalecer capacidades.
Para muitos de nós, facilitar nos deixa desconfortáveis, preocupados ou nervosos. Imediatamente, começamos a pensar nos piores cenários possíveis. A melhor maneira de nos preparar e evitar uma catástrofe, dizemos a nós mesmos, é começar a fazer uma lista de "como":
Como compartilhamos as questões a serem discutidas de forma poderosa e significativa para alcançar determinados resultados?
Como fomentar dinâmicas que sejam divertidas e, ao mesmo tempo, possibilitem a aprendizagem?
A facilitação, então, torna-se mecânica. Apenas uma série de passos e técnicas desenvolvidas por "especialistas" para direcionar ou controlar um grupo e, assim, atingir objetivos específicos. Aos poucos, transformamos a facilitação em um ato de manipulação.
[image_caption caption=”Desenvolvendo habilidades de liderança com crianças em Chiapas, México. © GFC” float=””]
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É essencial se preparar, isso é inegável. É nossa responsabilidade dominar múltiplas abordagens teóricas e metodológicas para facilitar nosso trabalho e responder a situações inesperadas. Mas e se, além disso, reservarmos alguns minutos para refletir sobre certos "porquês"?
Por que facilitar, especialmente em tempos de desconfiança e distanciamento social? Por que continuar organizando oficina após oficina quando muitas vezes é difícil identificar impactos concretos, especialmente no curto prazo?
As respostas, se estivermos realmente dispostos a procurá-las, são muito mais simples do que parecem:
O facilitador deve ser aquele que menos fala e escuta mais. O trabalho deles é incentivar um diálogo baseado no amor e no respeito.
Facilitar é, acima de tudo, um trabalho de cuidado.
Cuidar do espaço, para que todos se sintam confortáveis e ouvidos. Cuidar de cada uma das pessoas que nos dedicam um pouco do seu tempo e ousam sonhar conosco. Além disso, cuidar dos processos, entendendo que uma oficina não deve ser um espaço artificial e desconectado da realidade, mas sim o início de novas tarefas pessoais e coletivas para melhorar a vida de nossos familiares e comunidades.
[image_caption caption=”Fazendo máscaras para refletir sobre identidades de gênero em Chiapas, México. © GFC” float=””]
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Então, convido você a considerar esta questão: E se, em vez de nos perguntarmos “O que quero que as pessoas aprendam ou façam?” antes de preparar uma reunião de grupo, nos perguntássemos “Como quero que os participantes se sintam quando terminarem as atividades?”
Prometo que, se fizer isso, não só nunca perderá o aspecto ético da facilitação, como também as pessoas responderão positivamente aos objetivos e tópicos propostos. Não há nada mais poderoso do que se sentir ouvido.
Facilitamos a compreensão de que muitas das nossas dores e medos são compartilhados, e que superá-los é sempre um pouco mais fácil se o fizermos com outras pessoas.
Facilitar é construir espaços inclusivos onde a diversidade é sempre reconhecida, honrada e respeitada por todos. É ajudar a resistir aos perigos de uma história única e trabalhar para reconstruir nossa memória coletiva em termos de resistência e dignidade.
Facilitar não é impor uma agenda. É fomentar um espaço para construí-la coletivamente. E isso exige que nós, como facilitadores, estejamos sempre abertos ao inesperado.
[image_caption caption=”Jovens participando da Convenção Transnacional para Crianças e Jovens Migrantes em Chiapas, México. © GFC” float=””]
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Além de ser atencioso, as principais qualidades de um facilitador eficaz são a flexibilidade responsável e a escuta ativa. Planejamos as atividades com a certeza de que precisaremos fazer adaptações ao longo do caminho. O que nos guia como facilitadores são as respostas dos participantes e suas necessidades. Se os participantes estão entediados ou desinteressados nas atividades, a culpa nunca é deles, é nossa. E é o nosso chamado para recomeçar e propor algo diferente.
Um bom facilitador escuta para entender, não para responder ou intervir, e convida os outros a fazerem o mesmo. Facilitar é caminhar com os outros.
Facilitamos o olhar para ver com outros olhos, o questionamento sobre nós mesmos, o combate aos silêncios que nos foram impostos e a reescrever nossa história.
Um facilitador não é um professor. Sua função não é transferir informações ou repetir ideias ou conceitos mecanicamente.
Sua principal tarefa é construir novas linguagens, questionar o que os participantes aprenderam e revelar o que está oculto. Sua função é mostrar aos participantes que as realidades que nos oprimem não são grandes monstros sem nome ou história, mas o resultado de ações e situações concretas que podem – e devem – ser modificadas.
Facilitar é promover práticas de liberdade, fomentar o pensamento crítico dos participantes e dar-lhes espaços para descobrir como querem participar da transformação da sua realidade.
Um facilitador cria um desconforto respeitoso. Assim, contribui para expandir as capacidades criativas dos participantes, para que se tornem protagonistas de suas próprias histórias.
Lembrar por que facilitamos e a responsabilidade que trabalhar com seres humanos implica sempre nos ajuda a confiar nos processos de mudança, nas pessoas e em nós mesmos, embora muitas vezes não tenhamos todas as respostas. Os “porquês” são o que dá sentido ao que fazemos.
Quando temos clareza sobre os “porquês”, tudo fica mais fácil.
E agora, estamos prontos para pensar nos "comos". Então, fiquem ligados para o próximo capítulo.
Foto do cabeçalho: O autor participando de uma atividade com crianças em Chiapas, México. © GFC