
Justiça de gênero
Educação, Justiça de gênero, Segurança e bem-estar, Poder da juventude
Durante décadas, o distrito de Gulu, no norte de Uganda, foi aterrorizado pelos combates entre o governo ugandense e o Exército de Resistência do Senhor (LRA). Muitas crianças fugiram com suas famílias para campos de deslocados internos (IDPs); outras foram sequestradas, abusadas ou forçadas a combater pelo LRA.
Hoje, Gulu é uma comunidade rural relativamente pacífica. A maioria dos moradores são agricultores de subsistência, muitos dos quais vendem seus produtos e artesanatos nas ruas. Jovens que passaram a infância com medo agora anseiam por um futuro produtivo, mas enfrentam os desafios que surgem quando uma comunidade precisa se reconstruir após anos de destruição e instabilidade.
Em junho de 2018, tive a oportunidade de conhecer algumas dessas meninas e ouvir suas histórias. Foi minha primeira viagem à África e, como nova funcionária da GFC, foi uma oportunidade gratificante para mim observar e aprender diretamente sobre o modelo da GFC, o projeto e nossos parceiros em Uganda.
[image_caption caption=”Shilah, 14, e Rita, 18, compartilham suas experiências de crescimento no Campo de Refugiados de Kyangwali e como a COBURWAS, parceira da GFC, impactou suas vidas. ” float=””]
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Em parceria com a Fundação MacArthur, a GFC coordena a iniciativa "Libertando o Potencial das Meninas em Áreas Afetadas por Conflitos de Uganda". Oferecemos desenvolvimento organizacional, capacitação e apoio financeiro a sete organizações de base que trabalham para fortalecer as redes de segurança social para adolescentes e jovens mulheres no país. Cada uma dessas organizações aborda questões transversais, implementando intervenções relacionadas à educação, formação profissional e empreendedorismo.
Uma parte importante da iniciativa é ajudar essas organizações a formar uma rede coesa para que possam compartilhar ideias, recursos e melhores práticas. Com o apoio e a orientação contínuos da equipe do programa da GFC, nossos parceiros Foundation for Inclusive Community Help e Hope and Peace for Humanity organizaram um workshop para reunir todos os parceiros da iniciativa.
A parte mais emocionante do evento foi ouvir diretamente as jovens participantes. Quatorze meninas tiveram a oportunidade de compartilhar suas experiências, feedback sobre o programa e histórias pessoais. Líderes distritais do governo local e representantes da mídia também estiveram presentes, dando às meninas a oportunidade de se defenderem e se envolverem diretamente com as partes interessadas da comunidade.
A oficina começou com uma exposição itinerante na galeria — uma série de pôsteres exibindo as conquistas dos parceiros ao longo da vida do programa. Vários parceiros pediram às meninas que liderassem a sessão, como forma de aumentar sua confiança, aumentar seu engajamento com líderes locais e promover seus pequenos negócios. As meninas compartilharam destaques organizacionais e exibiram produtos artesanais que produziram durante seus estudos profissionalizantes.
[image_caption caption=”Angom (centro) apresenta seus produtos artesanais. ” float=””]
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Mais tarde naquele dia, durante um painel de discussão, as meninas corajosamente compartilharam suas experiências e como cada uma das organizações de base as apoiou durante suas dificuldades. As meninas também expressaram o quanto se sentiram empoderadas após participar dos programas e como desejam ensinar outras meninas afetadas por conflitos na escola e na comunidade. Abaixo, alguns de seus depoimentos — seus nomes foram alterados para proteger sua privacidade:
Christine, de 20 anos, compartilhou o quanto apreciou o apoio que recebeu da Hope and Peace for Humanity (HPH) após enfrentar circunstâncias difíceis. Ela agora se considera uma pessoa otimista e bem-sucedida e está cursando Psicologia. Ela também aspira se tornar parlamentar para "dar voz às necessidades dos que não têm voz".
Heddy, de 19 anos, compartilhou que, com o apoio da Fundação para Ajuda Comunitária Inclusiva (FICH), ingressou em uma Associação de Poupança e Empréstimo da Vila — um grupo de pessoas que não têm fácil acesso a serviços financeiros formais e que trabalham juntas para economizar dinheiro e conceder pequenos empréstimos com suas economias acumuladas. Ela já havia adquirido habilidades em costura e sapataria e, ao ingressar na FICH, recebeu capital para abrir um negócio. Ela testemunhou que pode apoiar outras meninas vulneráveis em sua vila e treiná-las para adquirir as mesmas habilidades. Como Heddy é órfã, é particularmente importante que ela tenha acesso a recursos e ferramentas que possam ajudá-la a se tornar autossuficiente.
[image_caption caption=”Sylivia compartilha sua experiência com a RIC-NET e suas bolsas artesanais.” float=”alignright”]
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Sylivia, de 20 anos, compartilhou suas dificuldades no passado, como se mudar de um lugar para outro com a mãe, ter uma gravidez não planejada e abandonar a escola como resultado. Ela ouviu falar da Rwenzori Information Centers Network (RIC-NET) enquanto ouvia um programa de rádio na cidade. Ela entrou em contato e, após sua matrícula, foi designada para trabalhar com uma conselheira. A RIC-NET lhe forneceu um capital inicial que ela usou para comprar os materiais de tecelagem e a máquina, bem como para alugar uma pequena casa para seu negócio. Sylivia afirmou que, com o pouco dinheiro que ganhava com as vendas, começou a treinar algumas meninas na comunidade. Sylivia continuou engajada com a RIC-NET e a apoiou em seu treinamento em saúde reprodutiva. Ela agora apoia sua mãe e seu filho.
Os participantes ficaram comovidos com as histórias e dificuldades, bem como com o desejo das meninas de ver outras meninas afetadas pelo conflito retornarem às suas comunidades e receberem educação. As histórias mostraram o quanto as meninas se sentem empoderadas para compartilhar suas experiências e o quanto se esforçaram — com o apoio das organizações de base — para buscar um novo começo na vida. As meninas defenderam coletivamente o apoio contínuo de sua comunidade e da GFC. Após o painel, um líder distrital compartilhou o quão poderoso é ouvir as histórias e conquistas das meninas e como ele se sente motivado a apoiá-las em nível comunitário.
Experiências como essa levarão a mudanças nas políticas locais ou à expansão de programas voltados para meninas no distrito de Gulu? Isso ainda está para ser visto — mas na GFC, acreditamos que ouvir meninas e apoiar programas liderados por elas é um passo fundamental para garantir que esses programas sejam eficazes, impactantes e enraizados nas próprias ideias e aspirações das meninas.